quinta-feira, 29 de maio de 2014

Música brasileira

Aqui, fazemos um trato: não mais mudaremos nomes e definições das coisas, com a facilidade que se dá apelidos ou se cria uma nova palavra. Aliás, muito mais fácil e honesto seria criar mesmo uma nova palavra para algo novo.
Hoje, nostálgico, coloquei como trilha sonora de meu trabalho músicas da Clara Nunes. Sons de qualidade são assim. Não conhecia quase nada de sua discografia e a primeira vez que ouvi, achei excelente (e olhe que meu estilo predileto é rock!). Uma paciente entrou e quando me preparava para atendê-la, cantarolou a música que ouvia.
- Conhece Clara Nunes, Andrea? – perguntei.
- Nossa, adoro samba! Na realidade o de verdade, o samba raiz. Porque hoje, qualquer pagodinho que tocam na esquina, chamam de samba...  – respondeu com pesar.
Realmente, escutar Clara Nunes, Cartola e Adoniran Barbosa (e nem entramos no quesito “qualidade”) e o gênero chamado samba atualmente é um contraste muito grande. Assim como deveriam ter dado outro nome para designar o som criado no Rio de Janeiro, que nada tem de próximo com o estilo eternizado por James Brown e cantores da Motown nos anos 70.
Concordei por entender e vivenciar isso em outros estilos. Viajamos pelo sertão e lá aprendemos a admirar profundamente Luiz Gonzaga. Ver jovens de hoje, que do Rei do Baião conhecem apenas “Asa Branca”, chamando de forró o que escutam de "Calcinha Preta" ou "Moleka 100 Vergonha" (nada contra as bandas e sim contra a mesma nomenclatura para um estilo completamente diferente do que foi criado) é no mínimo estranho.
Um amigo, profundo admirador da cultura indiana, em suas andanças pela Índia, ao conversar sobre a cultura daquele país com os próprios músicos nativos, observava que estes se espantavam quando discorria sobre a ligação espiritual e história musical do local. “O brasileiro sabe mais sobre nossa história do que nós mesmos!”, falavam.
É parecido com isso o que ouvimos de muitos amigos do sertão, mais novos, quando discorremos sobre Gonzagão, Dominguinhos e seus seguidores.
Trato feito!

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