sábado, 17 de setembro de 2011

Chilitos

Estávamos descarregando uma doação destinada a outra escola do Ceará. Um calor literal do sertão. O suor escorria e gotejava no chão de terra. 
Depois de descer as pesadas caixas de livros, chegou a hora dos computadores. As caixas eram cheias com pequenos cilindros de isopor, que amorteciam qualquer sacolejo que pudesse prejudicar as frágeis peças. Nos balanços do caminhão, que saiu de São Paulo até aquela região, uma das caixas abriu o suficiente para derrubar alguns cilindros do isopor azul no chão de terra, na frente da escola. Continuamos a descarregar tudo; depois limparíamos a bagunça. 
Trabalho feito, conversávamos com alguns professores, quando uma criança, aluno da escola, que acompanhava curioso a movimentação, chegou e disse. 
- Mas é ruim esse chilitos, hein?! Comi 5, mas tem um gosto ruim. 
Outro ainda estava com um na mão, pronto para comer, quando alguém da equipe falou:
- Não come isso não, não é Cheetos, é isopor!
O menino sem pestanejar enfiou na boca, mastigando e falando:
- Tem problema não...
Rapidamente limpamos antes que outras crianças viessem para os "petiscos".
Na saída pensamos em falar com o patrocinador, para trocar os cilindros de isopor por alguma outra coisa que não parecesse um Chilitos. 

domingo, 11 de setembro de 2011

Livre arbítrio

Queridos amigos, muito obrigado!!
Essa demonstração de carinho e confiança me trás paz e certeza que o caminho segue, sempre sua trajetória correta.
Estamo em Crateús, terra querida também do Ceará. Visitamos duas escolas em que trabalhamos nos anos anteriores e agora estamos saindo da construção do galpão da futura central de reciclagem da cidade, que o IBS está contribuindo financeiramente.
Tamboril foi uma cidade incrível! A cada viagem continuamos nos surpreendendo com nosso Brasil, mesmo após tantos anos na estrada. Para se chegar à comunidade do Açudinho, subimos uma grande serra que apresenta características muito peculiares para a região. Uma pessoa desavisada que olhasse em volta, poderia pensar que estava em Minas Gerais. Vários montes e montanhas, verdinhos, cercam a comunidade. O calor intenso durante o dia, é seguido por uma fria noite, digna de usar blusas de frio.
Estava na praça, com uma turma muito bacana de amigos. Uns eram professores e outros alunos da escola. E o assunto passou a ser os jovens que saem de lá para São Paulo.
- O problema é que num lugar tão pequeno a gente não tem oportunidades. Nós também temos nossos sonhos, queríamos correr atrás das coisas que gostaríamos de ter. - nos disse Mailson.
- Olha, vou te dizer o outro lado que eu escuto, me sinto na obrigação. Muitos saem de um lugar lindo, como o que vocês moram, chegam em São Paulo e tem uma rotina ingrata. Moram longe de seus empregos, perdem uma hora e meia para ir trabalhar, mais uma e meia para voltar, em um ônibus lotado. Três horas por dia, perdida. Muitas vezes não tem tempo pra se divertir, em um lugar onde podem ganhar mais, mas gastam muito mais também. Não sobra tudo o que imaginam. - eu disse.
Ele pensou, balançou a cabeça e respondeu:
- Olha, se tem uma coisa que todo mundo aqui tem de sobra, é vontade de trabalhar. Pense num pessoal que tem coragem.
Aquilo me ensinou mais uma coisa: a realidade pode ser diferente olhada pelo ponto de vista de cada um. E todos, sem exceção, tem o direito de tentar. Errar ou acertar, é uma outra história, mas tentar, é um direito divino que Deus deu como nosso livre arbítrio.
Continuamos com o violãozinho na praça, e a viagem estava apenas começando.