quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A cerveja ideal

Não. Não sou nenhum "mestre cervejeiro". Tampouco algum pinguço que vive "enchendo a cara" (melhor deixar claro, não é?). Mas gosto de uma boa cervejinha e acho que hoje descobri a cerveja ideal. Bem, hoje não, pois estou no consultório, antes das 9 da manhã, e isso, imediatamente, desmentiria minha afirmação antes dos parênteses acima. Mas sim, nos últimos meses.
Ao contrário do que muitos pensam, o lugar onde encontramos as pessoas que mais sabem gelar uma cerveja é no sertão. "Nossa, mas um lugar quente e que gela bem a cerveja? Não é um paradoxo?". Não, gelam daquele jeito que você pega a garrafa, acha que vai estar "empedrada" e ela sai, tinindo!
E não estou falando de barzinhos, com mais aparatos. Quando há uma festa na escola, ou na casa de alguém, lá estão elas, no freezer ou geladeira, esbranquiçadinhas.
Um grande amigo, o Nado da Cia de Inventos, usa uma expressão bacana para a garrafa que fica branquinha, com uma fina camada de gelo em sua superfície: "canela de pedreiro", em alusão ao trabalhador que fica com o cal da obra sobre sua canela.
No sertão é assim, em muitos botecos, ou em casas, nos servem as "canelinhas de pedreiro".
Abaixo, deixei uma foto de duas que retiramos da geladeira num jantar, na querida escola de Poço das Trincheiras-AL. Aquela noite, incrível, todas as garrafas estavam assim, sem congelar a cerveja dentro. Como eles fazem isso? Não sei. Sabedoria sertaneja.
Uma pena que eu não tenha tirado uma foto da mais perfeita que já tomei em minha vida. Estávamos na casa de uma simpática senhora, que nos deu um maravilhoso jantar, em Poço Redondo-SE. Luis perguntou se podia pegar uma cerveja.
- Vá lá na geladeira, meu filho... - respondeu amavelmente.
Ele voltou com os olhos arregalados.
- Dá uma olhada nessa garrafa! - me disse mostrando a cerveja que trazia.
Ela estava com uma pedra de gelo grande, de ciama abaixo, em uma metade. Linda. Colocamos no copo, não estava congelada, mas tinha pequeninos flocos de gelo no líquido amarelo ouro, que dava uma sensação única. Foi assim até o último gole.
Me senti, exatamente, como um apreciador de vinho, que senta com um amigo em uma vinícola e prova aquela garrafa única de vinho, da melhor safra que tem. Sabe que como aquela, dificilmente experimentará outra. Tomamos até o fim, silêncio quebrado apenas para rápidos comentários de como aquilo estava sensacional.
Terminamos felizes, sabendo que será difícil encontrar outra igual, por toda a vida.



Imagem das duas canelas - direita e esquerda - de pedreiro

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Um dia no sertão

Em agosto, como comentei em algumas postagens, trabalhamos no Ceará, na cidade de Crateús. O trabalho aconteceria na comunidade de Pocinhos, um assentamento sem-terra, muito organizado e bem feito, na zona rural.
Ali, todos vivem em harmonia e, logo na primeira vista, pode-se ver que é um lugar diferenciado. Os moradores que ganharam o direito de viver nas terras, não se tornam donos das casas.
- Aqui a pessoa mora, mas a casa é da comunidade. Se um dia ela quiser sair, deixa a chave e nós damos a casa a outra pessoa que precise. - nos comentou o líder comunitário.
Isso é muito salutar, visto que são conhecidos muitos casos de pessoas que vivem na cidade, alugam suas casas e vão para um assentamento. Ao ganhar a terra, a vendem para terceiros.
Antes, para chegar até o local, pegamos uma estrada típica do sertão: de terra, entre a caatinga.



Fomos recebidos calorosamente, mesmo na hora avançada em que chegamos (em torno da meia noite), professores e moradores nos esperavam com um delicioso jantar.
Porém, mesmo com a fome apertando e cansaço, a primeira coisa que todos nós reparamos foi na casa que nos abrigaria. Uma casa branca, grande, espaçosa e com várias redes dispostas para cada um dos voluntários, dentro das quais havia um lençol e um travesseiro. Assim, a apelidamos carinhosamente de "Casas das Redes".



Jantamos, nos despedimos, fizemos ainda um ótimo sonzinho no violão. Haviam 3 deles na equipe. Os dois médicos oftalmos (Bruno e Filipe) também tocavam e o som embalou o sono de toda a turma.
O dia amanheceu, e dormíamos em paz. Poucas horas que revigoram mais do que as muitas que durmo em São paulo.



Ao acordarmos, tivemos mais uma grata surpresa: à frente da casa, uns 50 metros, havia um grande açude, que nos enviava uma suave brisa na manhã do sertão.
Após um reforçado café da manhã, seguimos para a escola onde fomos recebidos por muitas crianças com bexigas e versos carinhosos para os amigos visitantes.



O trabalho fluiu muito bem, a sensação da equipe, de dever cumprido, brilhava nos olhos de cada um, visto que era a última cidade em que trabalharíamos. Fizemos novos amigos e uma festa nos aguardava. Não precisaríamos de mais nada. Nada mesmo. Ainda assim, Deus nos presenteou com um lindo pôr-do-sol. Novamente, nós é quem agradecíamos...