sábado, 5 de julho de 2008

Olha a cobra!! (por Wolber Campos)

A riqueza do nosso Brasil espanta. Principalmente a riqueza natural, tão exuberante e abundante que muitas vezes transborda para dentro das estradas que cruzam o seu sertão.

Não é raro observar às margens da estrada em que viajamos animais silvestres, raposas, preás e sobrevoando o céu azul araras (inclusive as azuis!), tucanos...

Uma vez, enquanto seguíamos distraídos pela Belém-Brasília um veadinho (no bom sentido...) saiu de dentro da mata e correu (pulando) ao lado do carro. Enquanto eu pensava em fazer uma piada com o Leandro (que dirigia o outro carro) ele foi mais rápido e gritou pelo rário:

- Wolber, você viu que ele estava gritando o seu nome e dizendo: "me leva com você!!!"... - disse e deu uma gargalhada.

Minha piadinha sobre o animal pedir o telefone dele ficou na ponta da língua mas as risadas e a alegria de ter visto um animal bonito como aquele a deixou de lado.

Certa noite, em uma estrada no Tocantins enquanto seguíamos até Palmas, Manolo, nosso amigo que seguia ao volante, gritou:

- Olha a cobra! - disse desviando o carro para não passar com as rodas por cima do enorme bicho enrolado no meio da estrada.

Ela nem se mexeu, o que nos levou a imaginar que já havia sido atropelada. Como era tarde e a estrada estava completamente vazia ( e escura) fizemos um rápido retorno e voltamos para ver o animal.

Realmente espantava. Era uma cascavel enorme (pelo menos para nós da cidade grande. O Pedrão - que nasceu na Paraíba - disse que aquela era uma criança perto das outras de lá!) e realmente havia sido atropelada. Pelo tamanho (e números de elos) do guizo devia ter em torno de doze anos.

O João Victor e o Válter resolveram enfrentar o medo (e as futuras piadas sobre: pegar a cobra...) e levantaram a cascavel para uma foto. O Víctor Pinduca correu para sair eternizado ali também, ao melhor estilo: "Mamãe, olha onde eu tô!".

Após a fotografia o pobre "cadáver" foi levado para o mato na beira da estrada. O guizo já havia sido retirado com um rápido golpe de facão do Luis Salvatore (dizem que dá sorte).















Na foto acima: João Victor na esquerda, Válter à direita e Victor Pinduca ao centro. Os três com um enorme sorriso no rosto... Não sei se hoje ainda sonham com o enorme animal que por um tempo estiveram nas mãos. Pela alegria na foto, se sonharem não será um pesadelo...

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Justiça em terra de cegos (por Wolber Campos)

Não é de hoje que ouvimos falar do sistema de cotas para as universidades públicas, sejam elas raciais ou sociais. O assunto é sempre polêmico e causa acalorados debates em quaisquer setores por onde é comentado.
É inegável que a maioria dos alunos das instituições públicas superiores possuem um poder aquisitivo mais alto e teriam sim condições de pagar uma faculdade privada. O fato é facilmente explicado pela superioridade de ensino dos colégios particulares frente ao pífio conteúdo dos ensinos básicos estaduais e municipais.
Porém, a pior saída seria abrir as portas das faculdades públicas a alunos que, embora tenham direito de nelas estudarem, entrariam completamente despreparados com o baixo nível de ensino das escolas públicas.
Se hoje, por exemplo, a USP é uma universidade de ponta, com alto reconhecimento nacional e internacional, não é apenas porque possui professores sensacionais ou grande investimento governamental, mas principalmente porque ali só entram alunos completamente preparados, que tiveram que passar por uma dificílima seleção (que é a Fuvest) e desse modo os mestres poderão acelerar o aprendizado com seus afiados alunos.
(Longe imaginar que alunos de escolas particulares seriam superiores aos de escolas públicas, eles apenas tiveram uma oportunidade de um ensino muito melhor, que os deixou mais preparados.)
Com tudo isso, ocorrendo a entrada de uma parte de alunos afiados e outra – completamente – despreparados, o ensino não mais poderá seguir seu ritmo natural. Os professores não conseguirão cobrar a mesma eficiência dos dois grupos e, como não se pode dar duas aulas ao mesmo tempo, o ensino começaria a ser nivelado por baixo, na velocidade dos mais vagarosos. Com certeza, desse modo, veríamos o começo do declínio das Instituições públicas no Brasil, um de nossos poucos (se não for o único) orgulhos governamentais.
Não se deve facilitar a entrada de quem estudou em escolas públicas, seria fazer “justiça em terra de cego: furar o olho de quem tem”, se deve sim melhorar o ensino das escolas públicas. Como? Melhorando o salário dos professores cessando assim as greves que atrasam todo um cronograma de ensino, se investindo nas escolas, melhorando aparelhagens e estruturas, enfim, todos sabem o que é necessário para isso, só falta uma coisa: vontade política.
Enquanto isso vemos debates intermináveis, torcendo para que não aconteça com o ensino superior o que aconteceu com as escolas públicas de primeiro e segundo graus, que eram um exemplo de ensino nos anos 60 e 70 e hoje aprovam crianças que mal sabem ler ou escrever.